Capa

Pátio de todas as ciências

O Pátio da Ciência como espaço plural e socialmente importante

Por: Letícia Carvalho

 

 

Localizado entre o Instituto de Física (IF) e o Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), existe um espaço que, como qualquer outro da instituição, recebe constantemente estudantes em trânsito ou em intervalos de aulas. Porém, distinto aos outros ambientes, a área entre o IF e o IQ representa mais do que uma localidade física: é um espaço plural de conhecimento científico. 

 

O Pátio da Ciência é um espaço público, um centro de ciências aberto à visitação da comunidade. Com o objetivo de divulgar, popularizar a ciência e contribuir para uma alfabetização científica, o Projeto de Extensão recebe visitantes, em geral escolas de ensino médio, e dispõe de demonstrações de experimentos das áreas da Física e da Química. 

 

APRENDIZADO

 

Caio Marques e Izadora Riva, ambos de 17 anos e alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Instituto Auxiliadora de Silvânia de Goiás, estão no mesmo compasso quanto à visita ao Pátio da Ciência. Caio afirma que “É uma experiência única e diferente. Nunca tinha entrado numa faculdade e aqui tem várias coisas interessantes, principalmente na área da informática e da ciência. Esse tipo de visitação é muito importante, é essencial.”

 

A UFG, com um caráter universal, deve manter uma comunicação estreita com a sociedade, levando suas produções para o contato com a população. Izadora complementa: “Eu tô achando muito diferente das outras faculdades, que às vezes não são tão amplas. Aqui dá para ver que tem mais oportunidade, que você não tem só a aula teórica, você pode sair, conhecer outras coisas, não só do seu curso”. Essa percepção dos alunos demonstra que o Pátio da Ciência atinge seu objetivo fundamental: possibilitar o intercâmbio de conhecimento científico entre a comunidade acadêmica e a sociedade.

 

Para além de um maior contato com o mundo científico, a visitação extrapola as quatro paredes das salas de aula e proporciona a produção de um conhecimento palpável aos estudantes. José Augusto de Oliveira, 31 anos, é professor de Física do Instituto Auxiliadora de Silvânia de Goiás e destaca que a visita ao Pátio da Ciência “é um momento em que você sai da escola, do ambiente acadêmico escolar, para conhecer o ambiente acadêmico universitário, com experimentos que são aplicação dos conceitos que a gente trabalha em sala de aula.”

 

Visitação Silvânia

Lúdica e divertida, assim é a visitação no Pátio da Ciência.

 

 

EXPERIÊNCIA

 

O mais interessante de um Projeto de Extensão dessa magnitude é que possui funções externas e internas! Além de despertar o interesse pela ciência, com  uma relevância muito grande para a sociedade, o Pátio é fundamental ao desenvolvimento acadêmico dos alunos do IF e do IQ, que atuam como monitores no projeto. A experiência faz parte do treinamento deles, tanto ao estudarem os experimentos ou os desenvolverem para serem apresentados, quanto ao praticarem a comunicação, como a capacidade de falar sobre ciência em diferentes níveis. 

 

Eduardo Oliveira, 26 anos, é monitor do estande Luz e Partículas e está no sétimo período da faculdade de Física. Incentivado pelo amigo, na época monitor do estande Energia e Nanotecnologia, ele se interessou pela forma com que as pessoas ficavam felizes e animadas com os experimentos e compreendeu que era o que realmente queria fazer, se dedicar ao Projeto. Começou como monitor voluntário, por dois anos, até virar bolsista. O Pátio, portanto, representa sua graduação inteira, todo o seu processo de formação e, inclusive, seu TCC. 

 

Já para Felipe Albuquerque, de 21 anos e o atual monitor bolsista do estande Energia e Nanotecnologia, o Pátio sempre significou uma grande oportunidade! Aluno de Física, no sexto período, quis ingressar no projeto pela experiência, já que trabalhar com física foi o que sempre quis. Ele, que entrou em 2020 e tinha pouca experiência no ensino presencial, queria conhecer mais sobre a faculdade e se infiltrar no IF, para se sentir mais à vontade e mais realizado.

 

A princípio, Felipe sabia que ganharia certificado de horas, mas nem sabia que teria uma bolsa remunerada. Contudo, assegura que seu olhar sempre foi outro: "Quero desenvolver TCC, Mestrado, tudo que eu puder extrair, absorver do Pátio e contribuir com ele, como ele contribuiu e contribui para mim, porque eu desenvolvi muito minhas habilidades como físico e como docente graças ao Pátio. Hoje, eu desenvolvo projetos tanto na área de Pesquisa e Ensino quanto na área de pesquisa e produção de materiais em física."

 

ADVERSIDADE

 

Por sua proposta universitária, as Universidades devem proporcionar também experiências universais a todos os seus membros, disponibilizando a eles uma gama de interdisciplinaridade e possibilidades múltiplas de aprendizado. Para tal, a UFG possui espaços que possibilitam esse intercâmbio de ideias e que buscam aproximar a comunidade à área acadêmica. Acontece, porém, que esses espaços marcam pouca presença ainda dentro da universidade, sendo desconhecidos até mesmo pela própria comunidade acadêmica. O Pátio da Ciência não está alheio a essa realidade.

 

Para entender o quão profunda é a falta de divulgação sólida sobre esse espaço, até mesmo estudantes dos próprios institutos têm pouco contato com o projeto. Aline Moreira, 19 anos e estudante do terceiro período de Química Bacharelado, revela que só tomou conhecimento do Pátio da Ciência por iniciativa própria, explorando o câmpus. "Conheço, mas nem tanto… descobri por acaso, mas o que tinha e o que faziam lá, eu não sabia. Sei que tem as casinhas, mostram experimentos físicos e químicos e ficam também de demonstrativo, mas não sei quais os horários, quem atende, se ainda está funcionando…".

 

Há também casos como o do Matheus Santana, 20 anos, que está no sexto período de Engenharia Elétrica e frequenta o Instituto de Física para algumas aulas. Apesar de ter conhecido o Pátio da Ciência ainda no Ensino Médio, agora, como discente da UFG, só frequenta o local em razão de seu amigo Felipe Albuquerque, “Caso contrário, iria muito pouco lá. Só iria passar para ir a aula e não ia nem dar uma parada para ver o Pátio”. 

 

Caso similar também é o de Lavínia Dornellas, 21 anos, estudante de Jornalismo do quarto período. Ela ficou ciente do local por meio de sua amiga, que, em contrapartida, também conheceu o Pátio da Ciência por um terceiro. “Se não fosse por essa corrente dos próprios monitores do local, eu não teria conhecimento e contato algum!”, afirma.

 

OPORTUNIDADE

 

No dia 19 de novembro de 2022, o Pátio da Ciência completou 10 anos de fundação e funcionamento. Sempre em evolução, essa década marca a reestruturação do Projeto de Extensão e a ampliação das possibilidades. Para dar andamento nessas transformações, o professor do Instituto de Física, Marcus Carrião, de 35 anos, vai atuar juntamente aos monitores do Projeto para colocar a teoria em prática. O atual coordenador do Pátio da Ciência, por já ter experiência em outros trabalhos de Extensão, não muito comuns na área da Física, foi convidado pela direção do instituto há três meses. 

 

Consciente da responsabilidade de coordenar o maior Projeto de Extensão do Instituto de Física, Carrião já tem planos e objetivos definidos. Além de propor exposições rotativas, temáticas, acessíveis e virtuais, ele planeja aumentar o acervo do Pátio com a construção de um acervo digital público. Assim, o Pátio da Ciência também será integrado na rede museológica da UFG. Para isso, o professor compreende que o Pátio da Ciência deve evoluir para um pátio de todas as ciências.

 

“O projeto de um Centro de Ciências na universidade vai além das atuações na Física e na Química, abrange todos os cursos e todos aqueles que queiram contribuir com o Pátio. Alunos da comunicação, da engenharia, da arquitetura, da história, da biologia… todos podem contribuir. Enfim, a multidisciplinaridade também é uma característica do Pátio da Ciência”, divulga Carrião.

 

 

Tab

Categorias: Pationoticias